Por Dra Paloma Porto
O carcinoma seroso de baixo-grau representa aproximadamente 5% de todos os casos de câncer de ovário epitelial. Ele é caracterizado pela idade jovem ao diagnóstico e sobrevida longa quando comparado aos carcinomas serosos de alto-grau. Entretanto, assim como os de alto-grau, a maioria dos pacientes com carcinoma seroso de baixo- grau são diagnosticados com doença já na fase avançada e mais de 70% dos pacientes recorrem.
Outra característica é a presença de alterações na via MAPK e a resistência relativa a quimioterapia a base de platina.
Este estudo foi realizado para comparar um inibidor de MEK (trametinibe) com o tratamento padrão (a escolha do examinador) em pacientes com carcinoma seroso de baixo-grau recorrente.
Foi um estudo internacional, randomizado e open-label, multicêntrico, fase 2/3 realizado em 84 hospitais nos Estados Unidos e Reino Unido.
Os pacientes elegíveis eram aqueles com mais de 18 anos, com carcinoma seroso de ovário ou peritônio de baixo-grau recorrente (tumores borderline ou com componente de alto-grau eram excluídos), tinham que ter realizado pelo menos uma linha prévia com quimioterapia a base de platina e não ter realizado as cinco opções de terapia padrão.
Os pacientes foram randomizados (1:1) para receber ou trametinibe 2mg via oral, uma vez ao dia ou uma das cinco opções de tratamento padrão (que incluíam paclitaxel, doxorubicina lipossomal, topotecano, letrozol ou tamoxifeno).
O tratamento era continuado até progressão ou toxicidade limitante. Os pacientes do grupo de tratamento padrão foram autorizados a descontinuar a terapia após seis ciclos, a critério do investigador.
Após a progressão da doença, os pacientes do grupo de tratamento padrão poderiam passar a receber trametinibe (cross over). O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão avaliada pelo investigador.
Entre fevereiro de 2014 e abril 2018, 260 pacientes foram randomizados para receber trametinibe (n= 130) ou tratamento padrão (n= 130).
A média de sobrevida livre de progressão no grupo do trametinibe foi de 13 meses (IC 95%: 9·9 –15·0) comparado com 7,2 meses (5·6–9·9) no grupo do tratamento padrão (HR 0·48 [IC 95% 0·36–0·64]; p<0·0001).
Um total de 88 pacientes (68%) no grupo de tratamento padrão realizou cross over para receber trametinibe. A sobrevida global mediana foi de 37,6 meses (IC 95% = 32,0 meses – não alcançável) no grupo trametinibe e 29,2 meses (IC 95% = 23,5–51,6 meses) no grupo de tratamento padrão (HR = 0,76, IC 95% = 0,51–1,12, P = 0,056).
A resposta objetiva foi alcançada em 26% dos pacientes no grupo do trametinibe versus 6% dos pacientes no grupo de tratamento padrão (odds ratio = 5,4, IC 95% = 2,4–12,2, P < 0,0001).
O efeito adverso mais frequente graus 3 ou 4 no grupo do trametinibe foi rash cutâneo (13%), anemia (13%), hipertensão (12%), diarréia (10%), náusea (9%), e fadiga (8%) e no grupo de terapia padrão foi dor abdominal (17%), náusea (11%), anemia (10%), e vômito (8%). Não houveram mortes relacionada ao tratamento.
Até o momento, a recomendação de tratamento para o carcinoma seroso de baixo-grau é baseado na extrapolação dos resultados de estudos randomizados históricos envolvendo principalmente pacientes com carcinoma seroso de alto-grau. Este estudo é o primeiro estudo randomizado positivo em carcinoma seroso de baixo-grau mostrando que o inibidor de MEK trametinibe reduziu o risco de progressão da doença ou morte em 52% em comparação com a escolha do investigador. O trametinibe também foi associado a um aumento de quatro vezes na probabilidade de resposta à terapia e mostrou uma tendência a um benefício de sobrevida global.
Os investigadores concluíram que o Trametinibe representa uma nova opção de tratamento padrão para pacientes com carcinoma seroso de baixo grau recorrente.
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)02175-9/fulltext